5 de fevereiro de 2010

Morte


A água do chuveiro caia sobre meu rosto como um bálsamo, o dia foi cansativo e o calor estava muito forte. Aos poucos a água caia pelo meu corpo, "é estranho", pensei, parecia que a água levava embora não apenas o calor e o mal estar, mas levava com ela algumas lacunas, algumas fendas, levava junto alguns sentimentos, que tornam-se mais claros agora, e acredito que alem de mais claros também mais maduros.
Fui até meu quarto enrolada na toalha, abri a janela para contemplar as estrelas, elas me fazem pensar, elas me ajudam a entender certas coisas. "Nossa como o céu estava estrelado".
Atirei-me na minha cama, exausta, não sei definir se a exaustão era pelo dia ou pelos sentimentos, só sei que meu corpo não conseguiria mover um dedo se quer, sentia-me imóvel e muito cansada, mas minha mente estava a mil, estava sedenta de pensar, de estar só por alguns minutos com as estrelas.
Olhei pela janela, senti uma leve brisa bater no meu corpo, e as estrelas brilhavam lindamente, como se anunciassem uma nova era um novo momento.
Sem a menor idéia do que estava acontecendo algumas lágrimas caíram de meus olhos, não era uma dor em si, ou um choro completo, elas apenas rolaram, como se algo me dissesse que "nada será como antes", ao menos a compreensão de algumas coisas não serão mais como antes. É como perder uma esperança que na verdade já esta perdida, mas continua batendo forte no peito, como modificar totalmente um sentimento de adoração para um sentimento de "poxa, poderia ter sido diferente", mas eu sei que não poderia, porque ela não queria que fosse diferente, ela queria que fosse assim, e eu no fundo gostava.
Nesse momento eu percebi profundamente que algo morrera dentro de mim, algo tão distante, algo que eu quase já não lembrava que existia, mas aquela "garotinha", habitava ainda em mim de uma maneira tão forte que eu nem poderia acreditar.
Ela continuava sendo uma "garotinha" dependente, e insegura, mas parece-me que ela está morrendo, ela ainda está em processo de morte.
As algemas que me prendiam nesse sentimento de culpa e adoração eram praticamente forma humana, de tão ligadas a mim que estavam, então posso constatar que elas morreram, sim elas morreram.
Tudo que eu mais queria a tantos anos, vivi mais algemada do que livre, mas a morte, independente de onde se encontre, a morte, é, e sempre será um momento de tristeza, o adeus é dor, abre feridas, mas todas as feridas curam, todas fecham.
Mas a morte continua sendo triste...

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